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Resenha ‘’Anti-frágil – Coisas que se Beneficiam com o Caos’’

NASSIM NICHOLAS TALEB

-RODRIGO TEIXEIRA FELICISSIMO

– RESENHA DE LIVRO – CICLO DE FORMAÇÃO IFL BH

O ser humano é repleto de contradições, e nem sempre a realidade se desenrola de uma forma lógica. Apesar de seguir e agir mediante determinados padrões, e se organizar de formas semelhantes; já está mais do que provado de que os seres humanos não apresentam resultados sempre iguais e esperados quando submetidos as situações do cotidiano.

Além da experimentação ao longo de toda a história humana já documentada tanto pela História quanto pela Bíblia, é plenamente possível dizer que nenhuma utopia ou modelo perfeito se desenrolou ao longo da existência. Por mais que tenha sido tentado, orquestrado ou teorizado.

Nessa linha, pensadores como os economistas Ludwig Von Mises e Friedrich Hayek já mostraram que é impossível centralizar e planificar a Economia; pelo simples fato de as relações serem dinâmicas e incertas; que podem ser sintetizadas de uma forma bem reducionista à chamada Ação Humana; que exemplifica o fato de os indivíduos terem objetivos e comportamentos diferentes perante a vida.

O que em palavras leigas pode ser explicado pelo simples fato de existirem pessoas que possuem certas características e visões de mundo, que outro grupo de pessoas não apresenta. E graças a essa desordem existem e sempre existiram pessoas que terão resultados extremamente diferentes das outras; seja por aptidão, dom, apetite, inteligência ou esforço.

Nessa linha, Nassim Taleb é extremamente preciso ao definir como as pessoas tendem a lidar de maneiras diferentes mediante as mesmas situações estressantes. E como esses eventos estressantes podem causar efeitos diferentes em relação não só aos indivíduos, mas também em suas adjacências, como o mercado e a sociedade como um todo.

Para exemplificar essa ideia, o autor apresenta o conceito de Anti-fragilidade.

Em tese, existem na natureza dois tipos de objetos. Os frágeis, que são aqueles que se quebram ou danificam quando expostos a uma força contrária; como o vidro, por exemplo. E os robustos, que são aqueles que tendem a manter a forma e a integridade quando expostos a uma força contrária; como uma rocha, por exemplo.

Entretanto, o autor inclui mais um elemento a lista, que é uma característica apresentada pelo ser humano e que ilustra a tese defendida no livro.

Casos em que ao contrário dos dois exemplos já citados, um objeto que não apenas não se danifica quando exposto a uma força contrária, mas como sai mais forte do que antes do evento estressante. E a esse caso específico, o autor da o nome de Anti-frágil.

Sob essa ótica, o autor demonstra exemplos em que tanto indivíduos, quanto a própria sociedade conseguiram não apenas sobreviver às dificuldades e desastres da vida; mas também conseguiram sair mais fortes.

Pode ser que esses eventos sejam forças mercadológicas, biológicas ou até sociológicas; mas é intrigante o fato de como o autor consegue elencar situações em que ainda que pareça que os seres humanos irão sucumbir aos problemas, eles se tornam mais fortes do que quando se depararam com a dificuldade.

O que popularmente pode ser dito como fazer muito mais do que uma limonada com os limões que são dados pela vida. É ter a habilidade de multiplicar os limões para ter quantas limonadas quiser.

Contra intuitivamente eventos catastróficos, ainda que tenham vitimado milhões de pessoas, foram eventos estressantes que proporcionaram avanços exponenciais na sociedade como um todo.

A título de exemplo, grande parte dos avanços tanto no campo da Medicina quanto da Tecnologia presentes nas últimas décadas foram alcançados durante ou graças à Segunda Guerra Mundial.

Algo que mostra que o ser humano tende a se sobressair em momentos de dificuldade; por mais difíceis que eles tendam a ser.

Isso não significa que as catástrofes sejam positivas, mas que apesar delas, o ser humano consegue não só se sobressair, mas sair muito mais forte.

O que mostra que a dificuldade é um fator positivo na vida do ser humano, e o grande catalisador que o levou até o nível de desenvolvimento que ele possui hoje; caso contrário, ele estaria vivendo em cavernas com medo do tempo e dos animais até hoje.

E não algo que deve ser evitado a todo custo; uma vez que evitar os desafios, na maioria das vezes, é uma forma de se limitar e não alcançar o progresso. O que faz bem vindo o provérbio oriental:

‘’Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes.’’

Mais recentemente, outro exemplo, que não poderia ser citado pelo Autor dado a data da obra, mas que vai ao encontro da tese defendida na obra; foi a ocorrência da pandemia de Covid 19.

Graças ao problema sanitário, o mundo conseguiu dar um salto exponencial em termos de digitalização da economia. A ponto, por exemplo, de transformações que estavam sendo planejadas há anos ou décadas serem implementadas em semanas.

Um exemplo disso foi a popularização forçada do Ensino à Distância nas Escolas e Universidades; uma possibilidade que há mais de uma década era aventada ou tentada pelas principais instituições do mundo; e que parecia algo para um futuro próximo; mas que foi implementada em semanas pela necessidade do distanciamento social em virtude da pandemia.

Uma modernização forçada que causou uma quebra de paradigma na educação mundial e que pode significar uma grande diminuição nos custos com educação em todo o mundo; além de possibilitar uma maior produtividade e agilidade dos alunos, para que, quem sabe, possam se formar em menos tempo e até com mais qualidade; pois podem ver e rever as aulas quantas vezes quiserem.

Na mesma linha, a adoção das videoconferências através de aplicativos como Skype e Zoom também mostraram que não era tão necessário o encontro presencial de empregados, líderes e/ou negociantes; o que na prática pode representar uma enorme economia de dinheiro com transporte e hospedagem dos envolvidos; e até uma maior agilidade para a tomada de decisões em todo o mundo; o que em tese irá gerar maior produtividade, especialmente em atividades que não necessitem de espaços ou maquinários físicos.

Movimentos que evidenciaram como algumas situações mesmo que por mais difíceis que sejam, podem gerar benefícios que deixem a sociedade mais forte após o evento estressante. O que vale também para empresas e empreendedores.

Tese que pode ser verificada por exemplo no caso de empresas que conseguiram adotar o chamado Home Office integral, eliminando a necessidade do gasto com uma estrutura física para os funcionários; uma economia representativa para negócios cujo um dos grandes passivos eram aluguéis, contas e suprimentos de escritório.

E algo que também pode ser notado em investidores que souberam aproveitar a oportunidade estressante não só para manterem sabiamente suas posições em empresas que se aproveitaram da transformação causada pela pandemia; como também para investidores que conseguiram barganhas enquanto o mercado estava assustado.

Ou seja, nos casos citados há exemplos claros da chamada anti-fragilidade, e de como indivíduos tendem a agir de formas diferentes.

Enquanto alguns foram altamente prejudicados pela pandemia, evidenciando suas fragilidades; outros conseguiram se manter; enquanto os anti-frágeis conseguiram aproveitar a situação para saírem maiores do que entraram.

Uma tese que pode também ser usada como uma espécie de mentalidade. Quantas vezes deixamos de enfrentar uma situação por medo ou insegurança? Quantas vezes tivemos grandes ganhos ao nos arriscarmos a novas experiências?

Portanto, a visão trazida pelo Autor não é apenas uma constatação da natureza e dos movimentos humanos; é também uma espécie de manual para lidar com as dificuldades e literalmente sair melhor delas. Uma mentalidade que evidencia que estabilidade não existe para aqueles que querem progredir. E que ao contrário do que muitos tentam emplacar, não é sobre evitar erros e riscos e sim sobre usá-los para se desenvolver cada vez mais.