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O futuro das Finanças

Por Bárbara Andrade

Conforme avançamos nessa década, as metodologias usuais não acompanham mais as ondas de inovação. Agilidade é um fator definitivo para os negócios, e ser muito lento pode levar à obsolescência. Pela velocidade das oportunidades e tecnologias, as decisões entre o que interromper e o que proteger pode levar uma empresa à irrelevância ou ao sucesso.

A natureza dinâmica dos negócios contemporâneos clama por uma atualização nas finanças. A realidade, porém, é que a maioria das equipes financeiras não estão preparadas para atender a essas demandas. A função financeira é, por natureza, muito conservadora, orientada a detalhes, regras e extremamente estruturada. A transição para um modelo voltado para o futuro irá exigir um pensamento inovador, mas infelizmente muitas funções financeiras não suportarão isso.

O setor financeiro terá que se reinventar para atender à demanda de seus clientes, incluindo reguladores, conselhos corporativos, departamentos de vendas e marketing, fornecedores e auditores internos e externos. Essas partes interessadas esperam cada vez mais que a equipe financeira (interna ou externa à empresa) sirva como um verdadeiro negócio parceiro, não um departamento de back-office focado no processamento transacional e relatórios históricos.

Tecnologias disruptivas são os maiores impulsionadores de mudanças nos negócios atualmente. Empresas como Samsung e Ford estão recrutando escritores de ficção científica para ajudá-los a visualizarem o futuro e a avaliarem oportunidades de inovação. A ruptura que a tecnologia traz está afetando todos os setores de negócios e as finanças não são exceção. Toda a automação advinda da robótica, aplicativos em nuvem, blockchain, entre outros, cria um modelo totalmente novo. Espera-se que essas mudanças capacitem o setor financeiro para entregar mais valor com menor esforço, responder rapidamente às necessidades dos negócios, e realmente mudar o tradicional processamento para parcerias estratégicas. Um exemplo: ao invés de fornecer respostas reativas a imprevistos, o setor financeiro do futuro pode oferecer resultados preditivos para impulsionar o crescimento. Em vez de sistemas bancários complicados e burocráticos, as equipes financeiras provavelmente terão arquiteturas para trazer agilidade instantânea e escalabilidade aos serviços.

A automação é a combinação de várias tecnologias disruptivas:

Gestão de dados: A progressiva integração e governança de dados externos, junto com a mineração de fontes de dados inexploradas, irá conduzir a previsões e a prescrições intuitivas. O departamento financeiro deve repensar seu gerenciamento de dados para entregar de maneira rápida e dinâmica as percepções e as melhores parcerias de negócios.

Tecnologias em nuvem: Os sistemas de gestão integrados (ERP’s) estão permitindo dados integrados em tempo real e processos globais de ponta a ponta. Além de criar uma plataforma colaborativa que posiciona o departamento financeiro como um parceiro de negócios, essas tecnologias podem ajudar a financiar, a padronizar processos e a melhorar a eficiência em áreas como orçamento e planejamento (FP&A), relatórios de gestão e processamento da folha de pagamento.

Machine learning: Os softwares que alimentam a Inteligência Artificial (IA) podem aumentar o raciocínio humano, a resolução de problemas e a tomada de decisão. O departamento financeiro pode usar o aprendizado do machine learning para processos como gestão de exceções de pagamento, fornecedores e gestão de contratos, reconciliação e análise, e preparação de arquivamentos estatutários e relatórios de acionistas.

Blockchain: Essa tecnologia revolucionária de manutenção e registro de transações pode aumentar a segurança de dados, a redução dos ciclos de transação e eliminar a necessidade de reconciliações. A tecnologia pode melhorar a eficiência e a segurança em processos como cross-border de pagamentos (ampliar as vendas para outros países, fazendo com que seus produtos cruzem a fronteira).

Uma abordagem melhor e mais rápida para iniciar alguns pontos de inovação é começar as análises da empresa pelo final: verificar quais problemas o negócio está enfrentando e depois determinar “de trás para frente” quais dados serão necessários, onde obtê-los, qual tecnologia é necessária para responder às perguntas, e quais tipos de habilidades pessoais são necessárias para analisar os resultados e tomar as ações corretas. Com este tipo de engenharia reversa, as empresas podem construir análises de forma relativamente rápida para uma área específica de foco estratégico.

Por exemplo, uma empresa pode começar fazendo as seguintes perguntas: onde estão as principais oportunidades para um crescimento mais rentável? Como podemos aumentar o volume e o valor de novos negócios e recorrência? Quanto de receita vem do digital e como podemos crescer ainda mais nesses canais? Ao responder essas perguntas, o setor financeiro está rapidamente alinhando a empresa com seu desempenho através de indicadores chaves (KPI’s) e levando os insights para a ação.

Usando essa estrutura, baseada em modelos de planejamento e previsão, qualquer empresa consegue gerar resultados rápidos e tangíveis ao criar um futuro de cultura analítica. Embora as organizações sejam legitimamente preocupadas com a confiabilidade de suas análises, elas não precisam de todos os seus dados perfeitos antes de começar. As principais organizações financeiras estão tomando uma dupla abordagem de seus insights e análises de estratégia, construindo confiabilidade de longo prazo enquanto entram em ação imediatamente:

Para o longo prazo: desenvolvimento de programas de governança para dados corporativos, especialmente o financeiro estruturado e planejamento de dados que os funcionários usam no dia a dia. Esses programas incluem o estabelecimento de um centro de excelência para efetivamente fornecer, governar e evoluir os dados e insights necessários para decisões. Uma espécie de “gestão à vista” com os dados bem estruturados.

Para o curto prazo: o financeiro pode capacitar suas equipes – especialmente de FP&A – para usar ferramentas analíticas e painéis de formas inovadoras. Coletados de várias fontes, esses dados muitas vezes não são controlados, mas as equipes ainda podem gerar percepções a partir deles e considerar como a ferramenta pode ser aplicada em outras áreas. Com o tempo, esses dados brutos podem ser absorvidos no conjunto de dados gerenciados de forma mais rigorosa.

Indicadores de desempenho: Identificando os KPIs certos para a estratégia corporativa, as finanças no futuro irão definir o ritmo de como a empresa opera. O setor financeiro e as organizações estão começando a olhar para alguns indicadores de novas maneiras:

Lifetime value: este indicador – que define o valor do ciclo de vida do cliente – é muito usado por startups, e está se tornando comum em diferentes tipos de negócios. Ao invés de se concentrar apenas em receitas de curto prazo, as empresas estão focando cada vez mais no longo prazo e na fidelização de clientes.

Rentabilidade da experiência do cliente: o financeiro ajudará as empresas a atingir o equilíbrio certo entre a experiência que os clientes esperam e o que faz sentido para o financeiro / orçamento entregar.

Retorno de capital de risco (Venture Capital): indo para além do retorno de ativos e do capital investido, algumas organizações estão se aventurando no capital de risco (VC). Eles contemplam o que o futuro pode oferecer em termos de novos serviços e mercados, avaliando alternativas e cenários de investimento com o uso menos frequente de métricas tradicionais de valor. Por exemplo, assistimos alguns negócios disruptivos que colocaram à prova diversas regulamentações de serviços públicos e que tiveram expansão através de investimentos VC incentivando um marketing mais inovador, preços e estratégias diferenciadas para esse capital de risco.

Novos papéis que estão surgindo: A mudança de prioridades está demandando alterações na força de trabalho no setor financeiro. Abaixo está uma amostra de novas e emergentes funções para oferecer suporte aos novos recursos e requisitos de habilidades:

  • Modeladores de dados financeiros / cientistas: irão executar complexos modelos financeiros, analisar impactos diante de diferentes cenários e aconselhar a presidência sobre as finanças da empresa.
  • Arquitetos de soluções de negócios: com experiência em gestão de trabalho digital e conhecimento de sistemas, identificará o necessário processo financeiro e contábil, sugerindo mudanças e implementações de tecnologias relevantes.
  • Analistas de inovação e investimento: identificarão mudanças em comportamentos do cliente e dos concorrentes e suas implicações nos negócios, por ter uma abordagem “de fora para dentro” para desenvolver insights e sinais de tendência.
  • Analistas de planejamento de negócios: irão lidar com as interações entre diferentes grupos de negócios e comunicarão as informações de maneira efetiva. Eles também serão parceiros do negócio com conhecimento e técnica profunda de finanças e contabilidade. Os parceiros de negócios precisarão de uma forte compreensão do ambiente externo e dos mercados para examinar e alavancar ameaças e oportunidades para direcionamento estratégico do negócio.

No modelo de prestação de serviço do futuro, a equipe financeira usará automação para extrair dados internos de sistemas multifuncionais e combiná-los com dados externos relacionados aos concorrentes, fatores econômicos emergentes, regulamentações e muito mais. Usando estes dados com análises avançadas, a equipe irá entregar de maneira muito mais precisa as projeções, que serão continuamente atualizadas em uma fração de tempo.

Com a ajuda de uma automação inteligente, da mesma forma, as equipes financeiras podem fornecer serviços especializados de forma mais confiável e com força de trabalho menor. Em auditoria, por exemplo, a tecnologia ajudará os profissionais vasculhando rapidamente conjuntos de dados robustos para questões de conformidade. Em impostos, estes sistemas irão extrair dados importantes, aplicar a legislação tributária vigente, e auxiliar na declaração de impostos.

Onde você está nessa jornada?

Use as seguintes questões para avaliar o seu financeiro e o progresso da sua organização nas análises:

  • Até que ponto seus diagnósticos financeiros e análises estão automatizados?
  • Em quais casos agregariam maior valor para a empresa ao aplicar ferramentas e análises preditivas / prescritivas?
  • Como é a estratégia corporativa conectada ao planejamento financeiro e operacional (FP&A)?
  • Quem possui os dados e análises na organização hoje?
  • Qual é o papel das finanças em gerenciamento de dados e governança, além da controladoria tradicional?
  • Você vê sua função ativa junto a equipe financeira para desafiar o negócio a fazer melhores decisões?
  • Você tem as habilidades e capacidades para fazer uso de informações analíticas?

A transformação é uma jornada. E apesar de em cada empresa a jornada ser diferente, o objetivo se mantém o mesmo: priorizar investimentos para alcançar o maior impacto e retorno em eficiência e valor estratégico – no curto e longo prazo.